31.7.05

De (con)fundir

Não há nada que enganar: quem muito se funde no outro, confunde-se, e confundindo-se, "fode-se". Nem em ciência nem em filosofia é preciso mergulhar: esta evidência bóia, à deriva, no mar.

29.7.05

28.7.05

Poema pouco original do medo

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis

Vai ter olhos onde ninguém os veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no tecto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos

O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com certeza a deles

Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados

Ah o medo vai ter tudo
tudo

(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)

O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos

Sim
a ratos

Alexandre O'Neill

27.7.05

Prosa Insana # 19

Há um luxo de grande valia para os pobres de espírito – a cegueira. Com ela, corre a vida na fantasia desejada. Passeia-se este cego atrás dos odores do reconhecimento, da fama rasteira, de se vender pela ninharia que é aparecer o seu nome mal escrito, com erros até, em veloz nota de rodapé. Muito feliz, cão audaz, ladra o cego para a celebridade, a droga que satisfaz. E abençoa a multidão, essa casca de melão sem semente, que rebola pela ânsia de pertencer ao grande grupo dos que engolem tudo o que se lhes dá. Engolem, não comem, não degustam, não apreciam – engolem, sem digestão. É a grande felicidade, senhores, a grande vitória na vida cheia de nada! Um nirvana para quem vende, quem se vende, e também para quem compra, vendendo-se. Quem tem olhos bons é considerado o verdadeiro cego, o tonto, o cenobita doente que na baba da boca da populaça fervilha e brota. Não se vendendo, o vidente não existe, porque só o vendável vive, só ele existe. É uma valente corrupção - da alma. É o triste espectáculo da alma esgotada, a podridão premiada. E depois toca a confundir tudo. A honradez do vidente, por exemplo, é hoje lida pelo rico cego vendido como inveja, esse vetusto mal nacional. Logo, uma virtude vista como pecado. E quem não entra nesta mentira, neste jogo de enganos; quem se recusa a receber cartas da súcia vendida, para além de invejoso, é apressadamente etiquetado como falhado, um pobre coitado, enrolado nos seus trapos, nos seus gastos valores. Pois ao falhado estendo a minha falhada mão, a mão deste vosso pobre eremita irmão, ainda mais recolhido nestes tempos de Verão, sem férias no lombo e em período de meditação.

8.7.05


.

7.7.05

Breve apontamento "National Geographic" II (versão alternativa)

Na selva da cidade, uma família inteira, plena de vontade, sujeita-se à admirável tecnologia. Sob a pele, um chip vai permitir seguir os passos de cada um dos membros do grupo. Por mera coincidência, a família em estudo tende para a disfunção, o que só vai enriquecer o tom experimental da audaciosa ideia que, tudo indica, apenas pretende servir para a segurança de todos, sobretudo a segurança da família, claro está, que isto é coisa de boa-fé. Família que vai ficar mais segura, no caso, por exemplo, de um rapto, esse cancro que tanto se alastra. Vai saber-se em que lupanar a cabeça do chefe mergulha nas horas em que o expediente é para o gozo, em que pizzaria a esposa engorda, em que bar o rebento mais velho gasta (ou ganha) o tempo, e a que parque infantil a ama se passeia com a tenra petiza da família. Vamos saber por anda esta gente toda. Quer dizer, alguns vão saber. Que fazem eles? É uma maravilha, este admirável futuro novo, com pleonasmo, bem lido seja.

Breve apontamento "National Geographic" I (versão alternativa)

No caminho pedregoso achou-se salva a cobra rastejante, pacientemente enrolada na manha de se fazer passar por morta. De tão esperta que se achava, até a fome fintou, ignorando o cheiro a rato que por ali passou em inopinadas correrias. O rato, apalhaçado e tresandando a gozo de tanto se passear à frente de tão temível inimigo - saindo da perigosa brincadeira com o focinho risonho e inteiro - desapareceu assim que lhe cheirou a verdadeiro perigo. Homem no caminho. Não foi ele, o homem, no engodo rasteiro, cujo olho cientifico rapidamente observou a esperteza do réptil fiteiro. Andava o homem científico à procura de uma farsa na natureza, para lhe enfiar nas tripas um chip inteiro. A modos que o fizeram, sem que a esperteza da cobra desmanchasse o seu encantado estado, nem mudasse a pele do seu teatro. Personagem morta, assim se quis parecer, mesmo quando a fina dor da seringa se espalhou pela carne, antes do bisturi lhe rasgar o ventre. Aí sim, de ventre já aberto despertou, com as entranhas em sangue e de bocarra aberta, de onde salivava (chorava?) veneno. Tarde de mais. Toda ela estava agarrada a uma sonolência que sobrevinha da droga metida na corrente sanguínea. Sem fantasias, dormia. Com método, era cosida. Acordou zonza e ignorante, desconhecendo que daquele segundo em diante, o homem seguiria o rasto de todo o seu indolente rastejar. Soube-se em que rio se banhava, em que covil dormia, enfim, informações de grande valia…

"Transparência/Segredo"

"Muita gente ambiciona que o espectáculo das suas vidas seja transmitido pelos media, talvez porque assim o pode fazer chegar às suas plateias ocultas. No entanto, a sociedade mediática e comunicacional está a colocar imensos problemas às pessoas. Transparência é a nova palavra de ordem, e nada tenho contra isso. Mas quem tem o poder, nomeadamente o Estado e as empresas privadas, sabe bem que «o segredo é a alma do negócio», diria eu, a fonte do poder. Vai daí, defendem a ferro e fogo os seus segredos: segredo de Estado, sigilo bancário, segredo judicial, segredo médico, nunca vimos tanta defesa de segredos institucionais, quando o espaço público e institucional deveria ser o mais transparente. Quanto ao segredo das pessoas, nomeadamente da sua mais íntima privacidade, nunca vimos tantas violações e tão pouca defesa contra elas. O Big Brother, e suas variantes, estão por todo o lado.
Se isto continuar assim, vamos assistir ao fim de autonomia de cada indivíduo. Os valores da sociedade ocidental baseiam-se na defesa desta autonomia, mas é a própria sociedade ocidental consumista e mediatizada que a está a destruir. Enquanto se mantiver o segredo (o poder) das chamadas empresas privadas, bem se percebe o interesse delas: transformar cada pessoa num elemento manipulado e sem espaço de autonomia nem crítica. Ou se mantém, sem espaço de liberdade, no sistema produtor-consumista, gerando os lucros das suas organizações, ou se marginaliza em ambientes onde o esperam grandes provações e novas manipulações, desta vez mais selvagens ainda.
Se o leitor não sabe defender os seus segredos e quer um conselho secreto, ele aí está: não vá nessa da «transparência». A emancipação do Homem sempre se baseou na existência de vários espaços bem delimitados entre si. Em primeiro lugar, temos o espaço público, partilhado por todos, que é hoje (deveria ser) transparentemente veiculado pelos mass media. Em segundo lugar, temos os vários espaços privados. Admitimos que o das empresas privadas seja um deles… mas que dizer do espaço familiar e das diferentes relações íntimas e de cumplicidade que se estabelecem ao longo da vida? A mútua partilha de segredos é a fonte destes relacionamentos e, uma vez transgredida, lá se vai o relacionamento e o espaço de liberdade que ele suportava. Se o leitor, por exemplo, entregar os seus segredos a outra pessoa e não receber os dela em troca, fica nas mãos dela. É o que acontece entre filhos e pais e, talvez, na relação com um médico ou advogado. Mas na relação entre adultos espero bem que isso não aconteça: os segredos devem ser partilhados para o poder ficar equilibrado. Desconfie de quem quer saber sobre si e não lhe conta nada em troca. Muitas pessoas que fazem isso estão a coleccionar peças de poder. Mas também é isso que fazem as empresas privadas que têm a sua ficha individual organizada nos seus bancos de dados.
Finalmente, existe outro espaço que você deve manter, tanto quanto possível, inviolado: é o espaço da sua fantasia. Se deixar que lhe adivinhem os pensamentos, lá se vai a liberdade que lhe resta. Fica de tal modo paralisado, que já nem sequer conseguirá pensar. É esse o grande drama dos esquizofrénicos e, a não ser que opte por essa patologia, não lhe desejo essa sorte. Pelo contrário, são a fantasia e o sonho que nos fazem viver, às vezes contra as adversidades circunstanciais. Por isso, guarde bem esse tesouro. Pode partilhar um pouco com algumas pessoas chegadas, mas guarde sempre algo para si. Se sentir tudo isso muito pesado, lembre-se que a arte se alimenta da fantasia, e existe para que nos possamos esconder enquanto a mostramos.
(…)
Resta-lhe a subtileza das palavras. É com as palavras que construímos os nossos mundos, é com elas que esgrimimos, que nos defendemos e atacamos (ou nos atacam). Cada contexto da vida tem o seu discurso próprio, que temos de respeitar nas suas linhas gerais. Mas as palavras também nos pertencem, e é com elas que nos construímos. São as nossas palavras que, em cada momento, temos de filtrar cuidadosamente, deixando sair algumas e reservando outras para nós. De resto, também as palavras mostram e escondem simultaneamente, já que nunca nos exprimem na perfeição. Este jogo paradoxal de revelação/omissão ou, se quiser, de verdade/mentira, é inerente às palavras mas difícil de aprender. Se o dominar, use-o em sua defesa.
Aceito que possa ter de omitir ou mentir aos outros, sobretudo quando tentarem invadir o seu espaço pessoal sem que você tenha feito mal a ninguém. Condescendo até que existam assuntos que você não queira saber. Numa sociedade com informação excessiva, parece-me vital saber seleccionar a informação que se adquirir. Mas não se esqueça que está condenado à lucidez. Condenado, sim, porque, se a lucidez é a maior conquista do Homem, ela é também a sua maior tragédia: cada um de nós sabe que há-de morrer. Por isso, evite mentir a si próprio, e não faça como os histriónicos que mentem primeiro a si próprios para se convencerem que são sinceros para os outros."

Assim escreve J. L. Pio Abreu, psiquiatra, no seu livro com o sugestivo nome “Como Tornar-se Doente Mental”. O excerto que aqui trouxemos insere-se no sétimo e último capítulo: “Como não ser doente mental”.
















Swell - Everybody Wants to Know [mp3]



















Radiohead - There There [play]

6.7.05

Prosa Insana # 18

Não raras vezes as maiores bizarrias estão em nós, ocultas. Não damos por elas, e alegremente vamos passeando pelo bosque da vida, julgando que nos conhecemos muito bem. Por fora, os olhos e os espelhos mostram-nos que aspecto tem o invólucro que o corpo é, e, tirando o envelhecimento a que assistimos diariamente ou uma maldosa partida do Destino, estamos (quase) certos de que a nossa aparência não se modificará da noite para o dia, sem que nada tenhamos feito para alterar a nossa imagem. E por dentro também julgamos nós que poucos segredos existem. Não falamos em nos conhecermos mesmo, não senhor, que é caso sério, anguloso, senão mesmo bicudo, cuja descoberta total em vida é uma doce miragem. Falamos de órgãos que a ciência, os livros, a escola, a Internet e a televisão abundantemente nos mostram. Não só sabemos que temos coração, estômago, pulmões, etc., como também os vemos. Ou vimos, no pretérito. Num documentário, por exemplo.
À luz da publicidade que vende a boa ideia de sermos "todos diferentes todos iguais", supomos que dentro de cada um de nós se alojam os ditos órgão normais, aqueles que todos têm, logo, todos temos. Mais ou menos estômago, maior ou menor tripa, lá se encaixam todos, nos devidos lugares. Pode ser uma mentira...
Já por fora, para além de pudermos facilmente nos fantasiar com uma miríade de tintas e estéticas operatórias, começam a aparecer casos assombrosamente enigmáticos. É o caso de quem se deita com uma certa fisionomia e acorda com outra, transfigurado, sendo essa, ainda por cima, uma fonte de ímpar (e impar) sucesso em certa blogosfera, que revela, segundo se grita, uma bombástica inteligência, com muita parra, ainda que amarelada, e pouca uva, passada. São opiniões... E gosto, que se não discute, como é sabido; muito menos o meu, pouco dado a convenções.
Ora, com tudo isto fico abismado. É que, mesmo pouco cogitando sobre o assunto, sempre me intrigaram certas metamorfoses espontâneas que ocorram fora do mundo dos insectos e/ou da literatura. Enfim, defeito meu: faz parte de uma certa incredulidade minha perante certos fenómenos. Ou fazia, porque lá diz o povo: «pela boca morre o peixe», que o mesmo é dizer: «na ratoeira se fina o rato.» E porquê? Porque hoje, meus caros leitores, desafiando leis e lógicas que julgava irrefutáveis, acordei... Assim:
Assim: exangue, sem coração, derramando verde sumo por entre postas. Irreconhecível, por dentro e até por fora! Vá lá a gente acreditar no que por dentro vive!...
Agradecemos à Susana, por nos ter enviado tão desconcertante híbrido.

4.7.05


Abbas Kiarostami
"I have always thought that the audience is much more creative than we credit them to be and I feel they can do a lot with the stories we pose for them. The only difference between my spectators and I is that I have a camera in hand and they don't. I don't see the spectators as any less creative that I am, and believe that sometimes, left to themselves, they can come up with a better ending than I can! Often people go to see a film with the expectation that a story will be told. I do not like this arrangement where there is a dichotomy between me, as the storyteller, and the spectator, as the one sitting there and watching the story as such. I prefer to believe that the spectators are much more intelligent and actually see it as unfair that I get the chance to captivate them for two hours telling them the story, ending it the way I say it must end and so on. So I actually want to give them more credit by involving them and distributing the sense of belonging between myself and the spectator, so I leave it open and that way s/he could end it the way he/she wants to end it."

3.7.05

"Cinema português nas noites da 2"

Não, não vamos aqui falar da qualidade dos filmes, dos seus problemas de argumento ou na sempre delicada área técnica. Não vamos pelo lado da crítica, fazendo uma radiografia a estas obras assinadas em português. Também não vamos dissecar a interpretação dos actores, alguns deles, refira-se, não profissionais. Muito menos descobrir e analisar os negativos expostos nestes fotogramas. Nada de mal ou bem dizer. Apenas informar e saudar a iniciativa. É no Verão, bem sabemos, aquela altura em que também a televisão joga no defeso, à semelhança dessa outra apaixonante actividade em forma de desporto que consome boa parte do bom povo. E também é lamentável, sim. É lamentável que se escolha esta época do ano em que a televisão faz pausa (porque anda o divertido telespectador mais interessado em banhos que em banhadas) para divulgar cinema português, nessa caixa que na realidade pouco de bom oferece. Mas, enfim, sempre acontece. É no Verão e na 2, essa ignorada alternativa. Mas passa, para quem não quiser deixar passar a iniciativa.

Domingo em "Viagem ao Fim da Noite"

"As ideias também acabam por ter o seu domingo; fica-se ainda mais pasmado do que é hábito. Para ali estamos, ocos. A sofrer com isso. A gozar com isso. Não falamos. Nada temos para contar porque, no fundo, nada acontece; somos pobres de mais, a vida fatiga-nos? Seria natural."
"Ao domingo à noite suspiros, emoções e impaciências não têm papas na língua. O amor-próprio está na ponte dominical, e para mais com um grão na asa. Depois de um dia inteiro de liberdade alcoólica, é ver os escravos estremecer; custa mantê-los quietos, fungam, dão bufidos e fazem tilintar as correntes."
Louis-Ferdinand Céline, Viagem ao Fim da Noite

1.7.05




















Jean Dubuffet - Frayeur (1924)

Terra a Terra

Ainda que não de pia forma, acreditamos no que por aí se grita e às vezes até se vê: o país está deprimido. Ele é o IVA, é o custo de vida, é o desemprego, é a mentira… Enfim, um ror de causas a que as estatísticas dão vida com negros números, expressando que uma grande maioria descrê em si e no país, todos abalroados pela crise que grassa por aí. E tão deprimidos andamos, que é natural que a memória seja afectada (como se sabe, um sintoma dos estados depressivos). Leva-nos isto a supor que certas publicações antiquíssimas não só caíram no esquecimento profundo, como nem no dito Portugal profundo se avistam, o que não se estranha, porque, e raios partam a maior depressão: somos campeões no analfabetismo. Falamos do "Borda d’Água", meus amigos, «O Verdadeiro Almanaque», que por um euro e vinte cêntimos se vende, e que oferece, segundo as suas próprias letras, «um reportório útil a toda a gente.» A gente desconfia deste género de generalizações, destas globalizações, mas, quem sabe se não têm eles alguma razão? Afinal, é certo e sabido que num estado depressivo o raciocínio é fortemente afectado, incapacitando o doente de bem pensar, por se encontrar a clarividência depauperada.
Assim sendo, vejamos o que nos diz o almanaque. Talvez nos ajude nalguma coisa. Quem sabe se não é com ele que afastamos alguma parte da crise? Não a do país, claro está, que o nosso delírio não chega a tanto, mas, pelo menos, ajudar a afastar de cada um de nós o mal da miséria, aquela que nos impossibilita de alimentar o estômago.
Pedindo desculpa aos nossos leitores, vamos seleccionar alguma informação. Sim, sim, assim é. Prometendo, porém, não ceifar do seu contexto a informação nele inscrita.
Assim diz (no que se refere a este Julho que hoje começa. Aprisionados entres parêntesis, deixamos alguns pensamentos. Dispensáveis, claro, mas que, metediços, se intrometeram.)

"Junho, Julho e Agosto / Senhora, não sou vosso." (A reflectir.)
(Dia) "1 – 6ª F., (sim. Confere.)
Sangue redentor de Jesus Cristo, (Sim.)
D. M. da Arquitectura,
D. da Força Aérea,
D. das cooperativas,
D. do Salvamento, (Cá está. Algo nada despiciendo.)
D. do Selo,
Feriado na Madeira."
(saltamos a parte da astrologia, por ser tão do agrado das massas, que temos receio de ser invadidos por uma multidão, sequiosa deste género de brindes. Já basta este "post" que não lembra ao diabo!…)

"Agricultura. Jardinagem. Animais.
Julho é o mês da ceifa e da debulha. Há que lavrar os canteiros; terminar a colheita da batata temporã e começar ou acabar a destinada a semente; semear hortaliças; feijões verdes e alfaces (para antes do início dos frios do Inverno), nabos e couves tardias, e no final do mês, cenouras, rábanos, salsa e plantas análogas. Colher: alfaces, alhos, beterraba roxa, beringelas, cebolas, cenouras, couves, espinafres de Verão, feijão, tomate. No final do mês, os aipos e alguns melões. Roçar matos para estrume. No crescente da Lua cobrir cepas. Na Horta. Semear ao ar livre: agriões, alface de Outono e Inverno, beldroegas, cenoura, couve-de-bruxelas, couve-nabo, couve-flor tardia, feijão de trepar e anão, nabos, rabanetes, repolho de Inverno, salsa. As regas são muito necessárias. No Jardim. Semear: amores-perfeitos, calêndulas, etc., bem como plantas bienais e vivazes de germinação lenta, para serem transplantadas no Outono. Colher: as primeiras sementes. Gado. Atenção à sede e higiene dos animais."

E pronto. Assim reza o Almanaque. Agora já temos alguma informação. Nada de desculpas, hem! Se o infortúnio aparecer e não tivermos o que comer, já sabemos o que fazer. Nada de chorar sobre a crise. É ir preparando o terreno. Sobre a crise, é plantar. E colher. Quem diz batatas, diz confiança. Ou melhor, acção!