Brandos e bravos costumes
Regressou a olímpica comitiva portuguesa ao país de brandos costumes. No peito balançam três condecorações. Três, rezam alguns, «a conta que Deus fez». E por aí também há magotes de gente que reza para que a demoníaca noz do aborto continue a navegar ao deus-dará, à mercê das vagas internacionais. E que fique por lá, essa embarcação carregada de maldade porque manda o bem que fique longe. Manda o bem e o governo! Este, que outro não temos, nem podemos escolher nesta democracia! Este, que depressa fundamentou com leis e patranhas de segurança a decisão de manter a embarcação a milhas, mostrando ao povo que está seguro nestas mãos direitas, tão firmes e pesadas nas coisas dos direitos e justiças. Atropela o governo a constituição, sem novidade. Desafia a nossa inteligência, sem novidade. E assim, que o aborto rume para longe dos nossos costumes que de tão habituados que estão, não estranham relatórios que dão voz, pelos números, às vítimas de maus-tratos. São 60, senhores! Sessenta mulheres que morrem por ano nos “ninhos de amor”. Para estas tocas de horror não corre o governo para fazer cumprir as justas leis. Também é coisa de crime, mas mais na mentalidade. É possível um terceiro denunciar a maldade, mas quem quer meter a colher? São bravos, senhores. São bravos, alguns costumes. Se calhar porque é costume ficar impune.
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