Reuni
Estava eu em toca alheia a discutir com mais alguns as voltas a dar a um argumento (argumento, que não gosto cá do palavrão guião). Argumento, que, se tiver sorte de chegar ao papel, de lá por certo não passará. (Ah!, estas coisas do cinema, das ideias e das narrativas, das personagens e das brigas, dos conflitos e dos desfechos! Estas coisas dos começos a muitas cabeças, das vomitivas frases do pensamento primeiro, primário, primitivo!...)Mas avancemos. Estávamos nós a dar voltas com as criaturas inventadas, quando o dono do albergue, numa tentativa de desanuviar a cabeça emperrada numa irresolução, se sai com esta: «sabiam que nos Estados Unidos há um programa de televisão, à la Big Brother, cujo objectivo é endireitar um gay? É verdade, pelo menos a acreditar em quem mo disse. Na casa estão três machos musculados; o concorrente é fechado na casa para aprender maneiras masculinas.» A gargalhada entrou na casa e passou de boca em boca. Eu, no meu canto de rato, cogitei: Mas que raio de entretenimento, este! Onde vamos todos parar? Que senhor terá tido esta ideia? Que cabeça pariu esta bestialidade? E que estúpido ser, "invertido" ou "direito", se presta ao ridículo desta exposição a troco de trocos e fama efémera? Mais ou menos isto pensei; mais ou menos assim o disse: «Onde vamos parar? Sim, onde, porque quando já não me parece sensato perguntar! Faz-se espectáculo da forçada mudança de uma qualquer natureza humana. Já não se testam (só) os limites de cativeiro, também se deseja matar “maneiras de ser”. Pronto, eu sei que estou a ser ingénuo e pateticamente moralista, defendendo um ponto de vista já cego, careca que se está de se saber que esta contaminação é prato de todos os dias, há muito servido no nosso quotidiano. Deixou-se de se exibir mulheres barbudas e homens-elefantes. Agora engaiola-se gente “perfeita” à procura de dar de caras com a sua figura estampada numa revista. Não é novo, e por estranho que pareça, já nem chateia (o hábito é um monstro, acrescento agora), mas bolas!, não há o bom-senso de parar?» Respondeu um sensato conviva trabalhador: «pronto pá, estanca lá essa veia comunista, ou humanista, ou moralista, ou lá o que ela é. Tens razão, mas cá para mim, estás (e estamos todos) a fugir à discussão. O que é que o gajo faz: vai ou fica?» De pronto, vomitei: Muda de vida; torna-se eremita…Não, calcorreia mundo, à procura de um pedaço de terra onde esteja escrito «Abbas Kiarostami -
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