5.11.04

Como em Londres - Cara

A brilhante ideia já baila nos cérebros do bom Governo: queres entrar na grande capital ou no Porto? Ai sim? Então, terás de pagar, caríssimo cidadão. Portagens à entrada dos grandes centros populacionais, essa ideia inglesa que importa importar. Lembrai-vos que em Londres a astuta medida para pagar, pegou. Não queremos nós estar nesse comboio da Europa que à frente segue? Então!? O que precisamos é de clonar as boas (e benéficas!) medidas dessa moderna e poderosa locomotiva. Seguir-lhes o rasto. Tocar-lhes no calcanhar. Não temos, é mais ou menos certo, o mesmo custo de vida, a mesma rede de transportes, o mesmo funcionamento, o mesmo rigor nos horários, mas… enfim, também não poderíamos pedir tamanha descaracterização, facilmente conotada como “falta de patriotismo”. Não somos ingleses, não sofremos dessa doença da pontualidade que por lá grassa, não bebemos chá às cinco, muito menos com leite. Por cá, a gente somos mais adeptos do atraso. É coisa que está no sangue e, assim sendo, levará algum tempo a purificar. Portanto, os nossos transportes irão continuar a funcionar como têm funcionado até hoje, com a ligeira diferença de poder aumentar o custo dos passes sociais porque a gente nada manda nessa dança do petróleo, como tal, dançaremos conforme os acordes da cançoneta internacional. Vós, caros cidadãos, só tereis de cumprir. É para o bem de todos. A bem da Nação, a bem do ambiente, a bem da qualidade de vida. E, de qualquer maneira, é só uma ideia! Para pagar. E calar, se nas esburacadas cidades quiser entrar.

Está em causa a qualidade de vida nas grandes cidades, argumenta o bom Governo. Não sei porquê, mas lembro-me de um tal dia sem carros, em Lisboa, com uma única rua cortada ao trânsito, esse cancro entranhado na qualidade da boa vida da grande cidade. E outra ideia, decerto torpe, se me encadeia no pensamento: será que querem introduzir portagens, sabendo que as alternativas são más, muito más? Não. Não pode ser. E é só uma ideia. Ainda...