8.10.04

PROSA INSANA # 3

Uma luz amarela, pardacenta, doentia, tenta entrar por esta toca. Com o manto amarelado, chega também o pestilento odor invernal que se entranha nas paredes telúricas. Fecho tudo. Tudo. Rapidamente. Ouço o vento uivando lá em cima, na superfície do bosque, desencantado com o repentino ataque do mais feio rosto da Natureza que se enfurece sem aviso, que se alvoroça, medonha e com fome de destruição. Escondo-me no recanto mais quente do reduto. Prego pela hibernação que não chega, que não envolve, que não descansa. E já me vejo em calças pardas, enfrentando tempestades que cheiram a devastação natural na sua limpeza evolucionária que tanta e tanta vez, da injustiça, faz lei. Agarro-me ao coração e peço protecção. Entrelaço as mãos e rezo a oração. Oro e coro. E adormeço com o estrondo do trovão.