5.10.04

PROSA INSANA # 2

Tão poucos são os tostões que os guardo debaixo do colchão, na moda antiga dos antepassados remediados, alimentados a couves e ovos de galináceos atacados por gordos piolhos. São tão poucos os tostões que não há fila que me chame para defronte dessas máquinas todas multi-qualquer-coisa, todas vomitadoras de vil metal, expelido em papel. Também (ah, suprema quietude!) não há centro que me veja entrar nesse descomunal mundo do comercial, todo compre-tudo, ardendo eu nas altas febres de querer o supérfluo para encher a despensa da vaidade, para adquirir a camisa mil vezes vendida para outros corpos embelezar. A minha camisa, vestida hoje, é a mesma de ontem; a mesma que amanhã me irá aquecer junto à rústica lareira construída pelas mãos dos antepassados, a beber vinho feito com os pés e a dizer para o cão: Amigo deste homem, a pobreza também tem os seus encantos!