27.5.05

Prosa Insana # 15

Longe vão os tempos em que elas (e só elas) passavam pelas torturas da cera em nome da estética, pelas depilações, pelos minutos perdidos em frente ao espelho massajando o rosto com as panaceias que mais não são que placebo mais ou menos eficaz que enche a vista de quem quer ver a pele dar sinais da juventude que se esvai, tentando apagar dos olhos os pés de galinha e as rugas que a(s) crise(s) vão vincando. Agora, agora também eles passam pelas manicuras, pedicuras e depilações várias, para que peito com pêlo se torne "imberbe". E são elas que os instigam, babadas e hipnotizadas pela beleza instituída, construída na máquina da publicidade, essa fábrica da ilusão, agente máximo da insatisfação, promovendo a imagem de marca do que deve ser um símbolo de beleza, com músculos em sítio certo e em certo sítio, sem pêlo no dorso, que isto de macacos e gente com pêlo só se for na venta, onde realmente faz falta, mas mais no sentido figurado, para fazer face e dar a face à competitividade reinante, para não ficar nem atrás nem para trás nesta grave corrida pela sobrevivência. Tudo limpinho, como o senhor do anúncio xis, ou aqueloutro daquele filme que a moda trouxe para o centro comercial, vindo das Américas de todas as novidades, de todos os consumos, tudo fast e bom de mastigar e deitar fora. E eles, cada vez mais elas, cada vez mais por elas, retocam a linha da sobrancelha, limpam aquele fosso em que os pêlos das mesmas se unem, fora da moda, a atirar para o labrego, atávica condição dos pindéricos, essa gentalha sem gosto, sem cuidadinhos com o corpinho que se quer vistoso e limpinho. E eles que não cheguem a casa, já com os irreverentes pêlos a saírem da pele, que elas não permitirão que os seus seios, naquelas alturas que seriam de amor, momentos perfeitos, sejam estragados pelo desconforto das picadelas do peito semi-pelado, com ganas de voltar a ser matagal a desbravar. E se não queres vai a andar, que isto do divórcio comemora os trinta anos e hoje em dia, dizem as estatísticas, em cada dois casamentos um acaba em separação. Acautela-te, pois. Trata lá de seres aquele que ela quer que sejas, ou vais de carrinho, choroso e a pedinchar colo a uma feia disforme, com mais pêlo que tu, até no peito, se a má sorte o desejar.

3 Comments:

Blogger dragão said...

No Barbie-world, os "Kens" são um must.
Mas o caro R, com a sua já proverbial verve, acaba de me dar uma rica ideia, de cuja explanação futura lá no meu tasco, lhe rendo antecipadamente tributo.
Não lhe cheira desde já a esturro?...

Queira Vª.Excª prosseguir com o seu excelente blogue, sem tréguas nem retiradas!...

8:40 da tarde  
Blogger r said...

Se "cheira"!... Faça o favor de explanar, caro Dragão.

5:11 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Como diz o Rufus Wainwright em "What a world":

"Men reading fashion magazines
oh what a world it seems we live in
straight men
oh what a world we live in"

Cada vez as mulheres se parecem mais com os homens e os homens com as mulheres... que mundo!

1:36 da tarde  

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