4.6.05



Diálogo entre João de Deus e a Madre

João de Deus - Venho deixar esta criaturinha ao cuidado das irmãs.

Madre - Louvado seja Deus.

João de Deus - Dêem-lhe caldos de galinha e muito repouso.

Madre - Irmãs, demos graças a Deus ao salvador desta pobre infeliz. No mundo implacável e egoísta em que vivemos, raros são aqueles que ainda se ocupam do sofrimento do seu semelhante, pondo em risco a própria vida.
João de Deus - Não há pneumonia que entre comigo.

Madre - Como se chama, bom homem?

João de Deus - João de Deus.

Madre - Nome santo. É crente?

João de Deus - Não é uma questão de crença, é uma questão de confiança. Deus é obscuro.

Madre - Graças à sua boa acção os anjos e os serafins rejubilam no Reino dos céus.

João de Deus - Madre, não transforme um pequeno impulso aquático numa orgia celestial.

Madre - Tome lá cem escudos. Mas não gaste tudo em vinho.

João de Deus - Deus a abençoe, madre abadessa, por esta santa esmolinha.

Madre - Que Deus o acompanhe.

João de Deus - Mais vale só do que mal acompanhado. Ó Agostinho, toma lá cem dólares, mas não gastes tudo em freiras.

Agostinho - Muito obrigado, meu bom senhor.
Em As Bodas de Deus, filme de João César Monteiro.