18.10.04

Só se o homem mandar II

Sabes, lindo cão?, na Suiça não é nada assim! Podemos levar-vos nos autocarros. Podes entrar nos restaurantes. Podes passear-te pelos centros comerciais. Imagina: nunca te deixar em casa quando quero encher a pança na tasca da esquina, uma qualquer, igual àquela que deixei de frequentar, aquela, cujo o dono te chamava de fera rafeira, mas muito inteligente, como o são todos, de resto, esses, sem raça. Aquele, o dono do caniche amaricado que ignora a tua vontade de brincar, puxado pelo avaro comerciante. Ali nunca entrávamos, naquela espelunca com ares de coisa antiga, restaurada para atrair o gosto de todas as estéticas. Mas outro sítio qualquer, longe da rua. Apanhávamos o autocarro. Ias sossegado, SOSSEGADO!, sentadinho ao meu pé, esquerdo; sempre pela esquerda, como mandam as regras internacionais. Sim, porque havemos de lá ir. À Suiça. Vais ver os parques onde os donos se reúnem com os seus cães. Onde vocês brincam uns com os outros. Imagino pessoas diferentes daquele dono de tasca, armado em... nem sei em quê... Lá, as pessoas apanham as vossas necessidades. Não são como o do caniche que naquela vez, lembras-te?, me viu a apanhar a merda e sorriu, maliciosamente. Aquele sorriso que diz: "grande palerma, a limpar a merda". Ainda bem que lhe mordeste o tornozelo, quando ele te enxotou do seu estabelecimento, naquela vez em que te desatrelei. Acredita que vou juntar uns trocos e vamos à Suiça. Queres ir?


Elliott Erwitt - Paris, 1988

1 Comments:

Blogger r said...

Ora essa! Não há por quê, nem porquês, digo eu, nesta coisa da inspiração. Bom post!

8:24 da tarde  

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