PROSA INSANA # 5
Um dia destes comento uma loucura. Está decidido. Vai ser num domingo. Visto aquelas calças da família do vinco bancário, ou aquelas muito desportivas com bolsos modernos. Sim, essas, para dar ares de jovem rebelde. Tapo a careca com um gorro da moda e lá vou eu, de jipe (hei-de arranjá-lo), sempre a abrir em direcção ao Macdonalds. Vou encher o bandulho com menus económicos e sigo para o cinema comercial, lá mesmo no interior da grande superfície onde compro o bilhete para a comédia do momento parida pelos estúdios da grande máquina americana. Agarro num balde de pipocas, dos grandes, e com os bolsos inchados de rebuçados, daqueles embrulhados no mais ruidoso papel, entro na sala. E vou passar o filme todo a ruminar o açúcar, a rir-me como um maluco e, quem sabe?, a meter-me com a garotinha mais desinibida que, se a sorte me sorrir, irá estar ao meu lado, insinuando intimidades, daquelas aparentemente pueris. Digo umas graçolas em tom médio. Ouço um psiu vindo da fila de trás, insulto o latagão insolente que me mandou calar. Gera-se uma discussão que acabará com as minhas caralhadas ditas de pé, acompanhadas com energéticos movimentos que dizem: ou te calas ou desfaço-te aqui mesmo, macaco de ginásio. Conquisto definitivamente a menina do lado, ansiosa por diversão. Saio. Ela mete-se comigo. Não lhe ligo nenhuma. Acabo a noite enrolado no cetim da cara pele feminina de um qualquer Elefante Branco (hei-de arranjar o dinheiro) e chego a casa alumiado pelos primeiros raios solares, a desmaiar de bêbado e a gritar: isto é que é vida, caralho!
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