18.4.05

Prosa Insana # 10

Bem sei, bela toca: estás entregue ao bom abandono! É que sou eu bicho subterrâneo e um bocado esquivo. Di-lo a Natureza, di-lo o horóscopo chinês, digo-te eu, se dúvidas subsistissem. Sabes?, é que nem sempre há tempo para te adornar e de ti cuidar, como mereces; e, para além disso, nem sempre encontro o quadro certo para te embelezar. Fosse sempre a vida o paraíso que desejamos e esta cabeça estaria, sempre, para ti voltada. Mas batalho, toca. Batalho para que te mantenhas tugúrio aprazível. Se consigo? Isso são outros quinhentos, que nem sequer nas minhas contas entram. Cuidar de ti – chega-me, apesar de nestes últimos tempos ser o que menos tem acontecido. É que ando eu pelas profundezas escavando túneis à procura de água, procurando uma raiz de fé, e, já mais à superfície, limpando esta rica floresta, para que o fogo do Verão não a torne pobre, invadida por um negrume de morte. Mas como vês, sempre aqui regresso. E vejo-te um pouco maltratada, sim, mas ainda limpa, ainda com boa cara, ainda a minha bela toca, simples e pacata, onde tão bem repouso. E agora, feita a vistoria que contradiz a minha moral, volto para as escavações, para as limpezas, para as labutas de fazer suar, mas sempre, não te esqueças!, sempre contigo no pensamento.