9.6.05


Camilo Castelo Branco (1825 - 1890)

"Seja qual fôr o lugar que se atribua, na literatura portuguesa, ao assombroso novelista e panfletário, ninguém pode julgar como um entusiasmo apenas passageiro o crescente culto de Camilo. Há quem estranhe que esse culto seja mais intenso que o de Camões e quem cite outras poderosas individualidades da nossa literatura, rivais da sua glória, como Herculano e Antero. Sem discutir a justiça de semelhantes reparos, o que não se pode apoucar é a impressionante grandeza e a emoção que se desprende da obra e da vida de Camilo. Irregular sob o ponto de vista moral, torturado pela nevrose, sacudido entre o riso do sarcasmo e o chôro convulso, criador das mais ideais figuras de mulher e dos tipos mais repelentes ou risíveis, possuindo a imaginação dum grande romancista e novelista, a erudição dum investigador paciente, a visão do historiador, a análise que pinta os vícios e as paixões, e a linguagem mais rica e mais expressiva, dentro dos moldes tradicionais - Camilo parece a um tempo romântico e realista, mas não pertence, na verdade, a escola alguma. A sua existência cativa, tanto como as suas obras, os que estudam tão poderosa e excepcional figura. O epilogo macabro do primeiro sentimento, desenterrando o cadáver da mulher, o adultério, a loucura dum filho e a devassidão do outro, a cegueira, o suicídio, e, antes e depois da morte, a indiferença duma sociedade que só agora vai acordando para a evocação carinhosa do grande escritor, contribuiram para tornar cada vez maior o número dos camilianistas, a sua devoção fervorosa, inquieta e absorvente, em nada inferior à que, na França, por exemplo, manifestam os coleccionadores e admiradores de Stendhal e de Balzac".
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