15.6.05

Prosa Insana # 17

Às vezes acontece-me, toca. Acontece-me ser invadido pelo desesperado gozo que só certa perdição dá. Nessas alturas embrenho-me na floresta. Com passo certo acelero no caminho já traçado, calcado pelas minhas periódicas visitas a certo local, com o fino fito de lá chegar, lá ao coração da selva, onde se abre o Poço da Dúvida. Aí chegado, deliberadamente atiro-me para o abismo e no fundo do poço permaneço, sustendo a respiração, martirizando o corpo, lavando o espírito para, ao subir, chegar à tona mais fresco e mais livre; e ébrio de lucidez que os sonhos voltarão baralhar, já aqui, neste teu pobre mas belo tugúrio. Assim, ainda cansado mas mais seguro, e mais leve também, recomeço a labuta de te manter, ó toca minha.