Prosa Insana # 18
Não raras vezes as maiores bizarrias estão em nós, ocultas. Não damos por elas, e alegremente vamos passeando pelo bosque da vida, julgando que nos conhecemos muito bem. Por fora, os olhos e os espelhos mostram-nos que aspecto tem o invólucro que o corpo é, e, tirando o envelhecimento a que assistimos diariamente ou uma maldosa partida do Destino, estamos (quase) certos de que a nossa aparência não se modificará da noite para o dia, sem que nada tenhamos feito para alterar a nossa imagem. E por dentro também julgamos nós que poucos segredos existem. Não falamos em nos conhecermos mesmo, não senhor, que é caso sério, anguloso, senão mesmo bicudo, cuja descoberta total em vida é uma doce miragem. Falamos de órgãos que a ciência, os livros, a escola, a Internet e a televisão abundantemente nos mostram. Não só sabemos que temos coração, estômago, pulmões, etc., como também os vemos. Ou vimos, no pretérito. Num documentário, por exemplo.
À luz da publicidade que vende a boa ideia de sermos "todos diferentes todos iguais", supomos que dentro de cada um de nós se alojam os ditos órgão normais, aqueles que todos têm, logo, todos temos. Mais ou menos estômago, maior ou menor tripa, lá se encaixam todos, nos devidos lugares. Pode ser uma mentira...
Já por fora, para além de pudermos facilmente nos fantasiar com uma miríade de tintas e estéticas operatórias, começam a aparecer casos assombrosamente enigmáticos. É o caso de quem se deita com uma certa fisionomia e acorda com outra, transfigurado, sendo essa, ainda por cima, uma fonte de ímpar (e impar) sucesso em certa blogosfera, que revela, segundo se grita, uma bombástica inteligência, com muita parra, ainda que amarelada, e pouca uva, passada. São opiniões... E gosto, que se não discute, como é sabido; muito menos o meu, pouco dado a convenções.
Ora, com tudo isto fico abismado. É que, mesmo pouco cogitando sobre o assunto, sempre me intrigaram certas metamorfoses espontâneas que ocorram fora do mundo dos insectos e/ou da literatura. Enfim, defeito meu: faz parte de uma certa incredulidade minha perante certos fenómenos. Ou fazia, porque lá diz o povo: «pela boca morre o peixe», que o mesmo é dizer: «na ratoeira se fina o rato.» E porquê? Porque hoje, meus caros leitores, desafiando leis e lógicas que julgava irrefutáveis, acordei... Assim:
Assim: exangue, sem coração, derramando verde sumo por entre postas. Irreconhecível, por dentro e até por fora! Vá lá a gente acreditar no que por dentro vive!...
Agradecemos à Susana, por nos ter enviado tão desconcertante híbrido.
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