1.7.05

Terra a Terra

Ainda que não de pia forma, acreditamos no que por aí se grita e às vezes até se vê: o país está deprimido. Ele é o IVA, é o custo de vida, é o desemprego, é a mentira… Enfim, um ror de causas a que as estatísticas dão vida com negros números, expressando que uma grande maioria descrê em si e no país, todos abalroados pela crise que grassa por aí. E tão deprimidos andamos, que é natural que a memória seja afectada (como se sabe, um sintoma dos estados depressivos). Leva-nos isto a supor que certas publicações antiquíssimas não só caíram no esquecimento profundo, como nem no dito Portugal profundo se avistam, o que não se estranha, porque, e raios partam a maior depressão: somos campeões no analfabetismo. Falamos do "Borda d’Água", meus amigos, «O Verdadeiro Almanaque», que por um euro e vinte cêntimos se vende, e que oferece, segundo as suas próprias letras, «um reportório útil a toda a gente.» A gente desconfia deste género de generalizações, destas globalizações, mas, quem sabe se não têm eles alguma razão? Afinal, é certo e sabido que num estado depressivo o raciocínio é fortemente afectado, incapacitando o doente de bem pensar, por se encontrar a clarividência depauperada.
Assim sendo, vejamos o que nos diz o almanaque. Talvez nos ajude nalguma coisa. Quem sabe se não é com ele que afastamos alguma parte da crise? Não a do país, claro está, que o nosso delírio não chega a tanto, mas, pelo menos, ajudar a afastar de cada um de nós o mal da miséria, aquela que nos impossibilita de alimentar o estômago.
Pedindo desculpa aos nossos leitores, vamos seleccionar alguma informação. Sim, sim, assim é. Prometendo, porém, não ceifar do seu contexto a informação nele inscrita.
Assim diz (no que se refere a este Julho que hoje começa. Aprisionados entres parêntesis, deixamos alguns pensamentos. Dispensáveis, claro, mas que, metediços, se intrometeram.)

"Junho, Julho e Agosto / Senhora, não sou vosso." (A reflectir.)
(Dia) "1 – 6ª F., (sim. Confere.)
Sangue redentor de Jesus Cristo, (Sim.)
D. M. da Arquitectura,
D. da Força Aérea,
D. das cooperativas,
D. do Salvamento, (Cá está. Algo nada despiciendo.)
D. do Selo,
Feriado na Madeira."
(saltamos a parte da astrologia, por ser tão do agrado das massas, que temos receio de ser invadidos por uma multidão, sequiosa deste género de brindes. Já basta este "post" que não lembra ao diabo!…)

"Agricultura. Jardinagem. Animais.
Julho é o mês da ceifa e da debulha. Há que lavrar os canteiros; terminar a colheita da batata temporã e começar ou acabar a destinada a semente; semear hortaliças; feijões verdes e alfaces (para antes do início dos frios do Inverno), nabos e couves tardias, e no final do mês, cenouras, rábanos, salsa e plantas análogas. Colher: alfaces, alhos, beterraba roxa, beringelas, cebolas, cenouras, couves, espinafres de Verão, feijão, tomate. No final do mês, os aipos e alguns melões. Roçar matos para estrume. No crescente da Lua cobrir cepas. Na Horta. Semear ao ar livre: agriões, alface de Outono e Inverno, beldroegas, cenoura, couve-de-bruxelas, couve-nabo, couve-flor tardia, feijão de trepar e anão, nabos, rabanetes, repolho de Inverno, salsa. As regas são muito necessárias. No Jardim. Semear: amores-perfeitos, calêndulas, etc., bem como plantas bienais e vivazes de germinação lenta, para serem transplantadas no Outono. Colher: as primeiras sementes. Gado. Atenção à sede e higiene dos animais."

E pronto. Assim reza o Almanaque. Agora já temos alguma informação. Nada de desculpas, hem! Se o infortúnio aparecer e não tivermos o que comer, já sabemos o que fazer. Nada de chorar sobre a crise. É ir preparando o terreno. Sobre a crise, é plantar. E colher. Quem diz batatas, diz confiança. Ou melhor, acção!