5.8.05

Primeiro Passo Para Um Fim

Prosa Insana # 20
Já me pesa a vida, bela toca. Encaneço nesta lufa-lufa pelo alimento, exposto às maiores adversidades. Quase um ano de fuga… Cansa, não é assim? E estar permanentemente em alerta estoira com os nervos e enfraquece o coração, essa bomba que há-de rebentar, deixando de alimentar o circuito venal. E olha que já vai bombeando menos… Ora, se menos bombeia, mais os músculos dão de si, mais exposta fica a fraqueza da velhice. Aí chegados, tomados pela sombra da velhice, pardacenta se torna a parva vida; e ver-me-ei então em calças pardas, quando me faltarem as pernas para fintar ataques felinos, garras que do céu a pique voam, ziguezagueantes rastejares… enfim, de certa morte fugir. É bem melhor recolher umas quantas bagas enquanto é tempo! Bagas a dedo e cheiro seleccionadas, e com elas fazer a última refeição. Um rato vive o quê? Dois anos, se empurrado pela benfazeja sorte!?...
Não seria uma imagem degradante, ó toca? Eu, quase sem me puder mexer, arrastando-me pelos teus frescos recantos, pouco mais fazendo do que me lamentando da agudeza das dores que decerto sobrevirão. Não! Nego, renego e renegarei essa danação! Quero ter forças para perecer! E nada de tristezas, hem! Nem despedidas solenes. Doze bagas, uma por cada mês que ocupei esta arejada terra. Depois, sono… sonho, enfim. Mas tu; tu, toca; tu vais continuar. Aqui mesmo, nesta morada em breve por ocupar…