Nem carne nem peixe: uma coligação às direitas
Apareceram os doutores Santana e Portas juntos para dizerem, à vez, o mesmo: para as urnas, irão em separado, para se juntarem se a força dos votos permitirem formação de governo, a fim de darem continuidade às boas políticas, a meio interrompidas pela injusta decisão do Sr. Presidente, que, dizemos nós, em boa hora acabou com a brincadeira na governação. Assim, separados com claro acordo para reunião, pensam os de direita, aumentam o leque de eleitorado: captam as boas graças dos santos crédulos que ainda acreditam nesta união, aqueles que só querem PSD e aqueles que ao CDS/PP são fiéis. Mas cada um, dizem, lutará pelas suas ideias, sem atacar as diferenças dos amigos, porque amigos serão, se o povo assim o entender. Estão lançados os dados mal pintados que já rodam nas sondagens. São elas o que são, valem o que valem, mas vão dizendo que cada um por si, aumentam o pecúlio conjunto e, com essa soma, talvez consigam mais quatro anos no comando deste Portugal que há um ror de meses anda deprimido. Ora, que façam eles as continhas e as acordadas jogatanas para ao poleiro voltarem. O povo, se lúcido se encontrar, mostrará com quantos votos se desmancham os prazeres da governação. É que, fazendo fé nas actuais intenções de votos, é provável que viremos à esquerda. Dela, da esquerda, por muito que se tente, não há novidade. Não quer o PS entrar em negociações de coligações, na certeza de que, pedindo ao povo uma maioria absoluta, a vão conquistar. Confiam eles na esmagadora fragilidade da parelha que às direitas se entende. Optimistas, estes socialistas, que das políticas sociais (mais educação, mais justiça, mais combate ao desemprego) promete fazer, de todas elas, bandeira de campanha. Mais à esquerda tudo corre como era de esperar. O PC continuará a lutar pelas mesmas causas de sempre, agora com velha cara no novo comando; o BE continuará atento e a beliscar o poder. Mas agora tem o Bloco responsabilidade acrescida: quem sabe se, depois da hora, depois das contas feitas, não serão chamados… para reuniões. Acredita-se que não, mas ainda agora a procissão saiu nesta campanha que se pede serena, mui adulta, bafejada pelas boas brisas da democracia e pelo respeito pelos diferentes ideais que, embora desbotados como é fácil de constatar, regem as cores do pequeno espectro político do burgo, abraçado pelo estrangulador membro da crise. E essa, senhores, não se esqueçam, não vai desaparecer assim, da noite de vinte de Fevereiro, para o dia de vinte, mais um. Votai, pois, em consciência. Conscientes. Tendes tempo para isso.
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