30.11.04

Desculpai-os, Senhores

É este Governo um bebé que, coitadinho, nascido de parto tão difícil, precisa de mil cuidados na incubadora, ela própria, a máquina, maltratada pelos familiares que sovam o pobre recém-nascido em vez de o acarinharem. E não somos nós, línguas viperinas, que lançamos a comparação metafórica – é o próprio primeiro-ministro que a faz e salta em defesa desta criança problemática, muito indefesa, muito frágil, com perigosa tendência para a desagregação, para doenças, para crises. Mas, sendo criança problemática, há que cuidar dela com mais atenção. E que fazem? Fazem-lhe tanto mal que até pontapés lhe dão! Veja-se o caso do Professor Cavaco Silva que vem dizer que os bons políticos têm de sair da toca para afugentar os maus. Quem são uns e outros não sabemos nós ao certo, nós, gente do povo que nos entregamos às artes da adivinhação para chegar a nomes certos a partir das meias palavras. Estamos acostumados, e, se formos bons entendedores, as meias palavras chegam para perceber que alguns dos maus estão, alegremente, na máquina incubadora, aquela da deliciosa e esclarecedora metáfora do primeiro-ministro que muito nos ajuda na compreensão de quatro meses de vida do Governo e do desgoverno a que temos assistido. Afinal, há que desculpar as criancices, as indecisões, as sestas, as trapalhadas e confusões que este Governo-Bebé generosamente nos tem oferecido. Desculpai-os, Senhor(es), que eles ainda são jovens incubados a tentar saber o que fazem. E é próprio dos mais novos não medirem as palavras. É próprio dos jovens fazerem hoje e estragarem amanhã. Não ter certezas de nada. Agir sem muito pensar. Ler todos os jornais em quinze minutos e achar-se devidamente informado, como disse o nosso Santana à Judite em entrevista na televisão do Estado. Urge, pois, desculpá-los a todos. Desculpar Gomes da Silva, Morais Sarmento e os demais que lutam pela vida dentro da incubadora. Não fazem por mal. Só querem viver. Resta-nos saber se o insigne Presidente concorda com a eutanásia e se acha oportuno aplicá-la, a titulo meramente experimental, com o enfermiço bebé.

3 Comments:

Blogger dragão said...

Passei por aqui só para lhe dar um "bem haja!". É sempre reconfortante ver alguém afagar como ela merece a Língua Portuguesa.
E nunca esqueça: pelo menos tem aqui um leitor.
Ao contrário da caterva de medíocres e snobes consagrados que habitam aqui a blogosfera (como a toinosfera em geral), eu experimento grande satisfação e regozijo sempre que descubro talento no próximo.

5:23 da tarde  
Blogger r said...

Está esta porta escancarada para a(s) sua(s) visita(s), ilustre Dragão. E não há aqui (no ilustre) a menor intenção de bajular porque o "animal" que aqui habita é alérgico a essas condutas de "má raça". Aqui vive um "sem-apelido" com gosto pela palavra escrita e que tenta, embora com ela brincando, tratar a Língua Portuguesa com o respeito que Ela merece, dentro do que o meu saber vai permitindo e animado pela "regra" de conseguir comunicar e partilhar. E, ao fazê-lo, confortado por comentários como o seu. Obrigado. "Bem Haja!"

9:38 da manhã  
Blogger r said...

Está esta porta escancarada para a(s) sua(s) visita(s), ilustre Dragão. E não há aqui (no ilustre) a menor intenção de bajular porque o "animal" que aqui habita é alérgico a essas condutas de "má raça". Aqui vive um "sem-apelido" com gosto pela palavra escrita e que tenta, embora com ela brincando, tratar a Língua Portuguesa com o respeito que Ela merece, dentro do que o meu saber vai permitindo e animado pela "regra" de conseguir comunicar e partilhar. E, ao fazê-lo, confortado por receber comentários como o seu. Obrigado. "Bem Haja!"

9:38 da manhã  

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