7.12.04

Novela à Portuguesa - 1ª Parte (Intróito)

Há de tudo, no enredo da novela à portuguesa. E tudo em muitos episódios, seguindo a vulgar tradição do popular formato ficcional que bebe conhecimentos da inspirada lógica de fazer render o bom material onde alegremente desfilam heróis e vilões bem vincados, não vá o espírito do pobre povo enganar-se e confundir as personalidades das personagens porque é preciso não esquecer: bons, bons são e serão; maus, mal terminarão. Assim são, na generalidade, as teias urdidas pelo arguto argumentista que das massas sorve sabedoria, e delas se alimenta. Mas a novela mais “genuína”, aquela que menos trabalho dá e que, curiosamente, mais sucesso tem obtido junto do grande público [como dizem as célebres gentes que na Quinta (se) governam] é a novela da vida real, essa grande mina inesgotável onde quanto mais se explora, mais insólitos tesouros se encontram. Ora neste modelo real, os vincos de personalidade estão mais esbatidos: os bons também fazem mal; os maus também praticam o bem porque a realidade sabe que a natureza humana é complexa e que as acções têm muito que se lhe diga, com mais leituras do que aquelas que a ficção das telenovelas nos quer enfiar pelos olhos adentro, na lúdica tentativa de nos proteger e entreter, para que esqueçamos a própria realidade, claro está. E é nela, na novela real que mergulhamos, nunca esquecendo o tom ficcional que é o sal do pensamento narrativo, tão caro nestas paragens. Vejamos pois algumas novelas à portuguesa, alguns fios de narrativa que por aí se enleiam. Mas não hoje. Não agora. Novela é assim: amanhã continua, que o mesmo é dizer, no post seguinte.