PROSA INSANA # 6
Cara empresa:
Aceito o vosso simpático convite para repasto natalício para o qual fazem a fineza de me convidarem. Mas, como grito último, digo-lhes que a minha carne e osso só estará presente mediante o cumprimento de certas minudências, de pouca monta, claro está, na fina certeza de que estão em condições de serem por vós aceites e cumpridas. Cá vão:
Camarões, só dos tigre. Não me tragam daqueles microscópicos crustáceos decápodes de Sesimbra que a gente nem lhes toma o gosto. Depois, um repasto com iguarias várias confeccionadas pela artística mão de cozinheiro de primeira água. Água, também a quero, mas entre vinho. Caro. Pode ser destas terras do nosso bonito Portugal, se bem que não recusaria boa pipa francesa, coisa assim para o internacional, opção que muito bem lhes fica: boa acção que até pode ser confundida com classe, com bonomia, com prosperidade e outras quejandas. E sobremesas? Quero quatro diferentes, porque não há Natal em que não engorde vinte quilos, para melhor suportar as invernias que o novo ano sempre traz. E este próximo promete ser dos piores. É que, como bem sabem os senhores, vão atirar-me directamente para aquele desamparado estado de desempregado. Nestas temporárias circunstâncias são as reservas de gordura de uma utilidade incalculável, como vossas excelências devem de compreender. E já agora, no fim, para rematar em beleza, um chequezinho com o subsídio da época, não? Ah!, me desculpe, senhor empregador! Já me esquecia que sou um daqueles a verde carimbados, amarrados aos recibos precários. Não há direito, não se tem. Assim é, de facto. Está o senhor dentro da lei, e se nela se embrulha, nada posso eu fazer para lhe arrancar do coração uma pequena justiça. Nem nesta época… tão boazinha!? Mas pronto. Se o cheque lhe pesar, que apareça com um cabaz recheado de víveres enlatados, bacalhau para a ceia do dia próprio, e álcool para aquecer o sangue no ano que está para aí a rebentar.
São estas, cara empresa, dirigindo-me à pessoa do administrador cuja cara nunca lhe vi, as “condições” para que a minha presença abrilhante a vossa festiva jantarada organizada para este Natal.
Aceito o vosso simpático convite para repasto natalício para o qual fazem a fineza de me convidarem. Mas, como grito último, digo-lhes que a minha carne e osso só estará presente mediante o cumprimento de certas minudências, de pouca monta, claro está, na fina certeza de que estão em condições de serem por vós aceites e cumpridas. Cá vão:
Camarões, só dos tigre. Não me tragam daqueles microscópicos crustáceos decápodes de Sesimbra que a gente nem lhes toma o gosto. Depois, um repasto com iguarias várias confeccionadas pela artística mão de cozinheiro de primeira água. Água, também a quero, mas entre vinho. Caro. Pode ser destas terras do nosso bonito Portugal, se bem que não recusaria boa pipa francesa, coisa assim para o internacional, opção que muito bem lhes fica: boa acção que até pode ser confundida com classe, com bonomia, com prosperidade e outras quejandas. E sobremesas? Quero quatro diferentes, porque não há Natal em que não engorde vinte quilos, para melhor suportar as invernias que o novo ano sempre traz. E este próximo promete ser dos piores. É que, como bem sabem os senhores, vão atirar-me directamente para aquele desamparado estado de desempregado. Nestas temporárias circunstâncias são as reservas de gordura de uma utilidade incalculável, como vossas excelências devem de compreender. E já agora, no fim, para rematar em beleza, um chequezinho com o subsídio da época, não? Ah!, me desculpe, senhor empregador! Já me esquecia que sou um daqueles a verde carimbados, amarrados aos recibos precários. Não há direito, não se tem. Assim é, de facto. Está o senhor dentro da lei, e se nela se embrulha, nada posso eu fazer para lhe arrancar do coração uma pequena justiça. Nem nesta época… tão boazinha!? Mas pronto. Se o cheque lhe pesar, que apareça com um cabaz recheado de víveres enlatados, bacalhau para a ceia do dia próprio, e álcool para aquecer o sangue no ano que está para aí a rebentar.
São estas, cara empresa, dirigindo-me à pessoa do administrador cuja cara nunca lhe vi, as “condições” para que a minha presença abrilhante a vossa festiva jantarada organizada para este Natal.
Com os melhores cumprimentos, um desempregado no futuro.
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