31.1.05

Só se o homem mandar VI

Estás a vê-los bem? Cheira-os. Decerto que esse cheiro que mal exalam jamais sairá da tua memória olfactiva. Fareja-os: são políticos, Lindocão. Aquele ali vai cravado de facadas nas costelas adoentadas. Diz que governa, Lindocão. E, diz ele, que a gente já o conhece. Ah!, mais uma tirada infeliz, carregadinha de falta dessa coisa que nem em todos espíritos habita: bom senso. Ora, se a gente já conhece aquele ser, se a gente já o viu cometer as mais grossas asneiras, como, como vamos nós querer dar-lhe novo voto que o leve a continuar a agitar-se na incubadora que foi enterrada? Cada tiro, cada buraco no pé falso. Não bastando o infeliz cartaz com o professor Cavaco, tiveram que fazer um de gargalhada. Mas acho bem. Precisa o povo de rir, se nesta cegueira conseguir ler. Sim, porque anda por aí uma grande fraude com laivos de mega naqueles covis das sondagens que dão grandes vantagens ao Doutor Eng. da rosa. Mas julgas, Lindocão, que vais comer daquela ração com mais vitaminas, aquela bem mais cara? Julgas que aquele meio-sorriso nos vai fazer sorrir numa vida de sonho cor-de-rosa? Nem ele, nem nenhum dos outros. Com blocos esmagam paredes direitas ao centro erigidas. Com foices cortam laranjas cujo sumo servem, em bandeja de prata adornada com rosinhas catitas, aos grandes chefes do capitalismo que por aí rosnam o seu poderio avançado, sempre avançando num tsunami de Coca-Cola enquanto não aparece uma valente tempestade, que de resto já se adivinha, de "clepes". E todos hão-de ir a reboque porque todos: blocos, foices, laranjas e rosas, sob pena de não se afundarem, se vergam à forte lei do mais ditador com a boca cheia da palavra democracia, esse doce com que nos acenam para legitimamente, legalmente, democraticamente, claro está, nos foderem a vida. Sou estúpido e ando doudo, não é lindocão? Não tenho formação nem informação. Não digo coisa que bata com outra? Desde que bata, já me chega, meu fiel. Outros mais me chamarão nomes. Energúmeno. Mentecapto. Céptico. E que me digam que nada entendo, que tudo me escapa, que sou ninguém. Disso, ó cão, não quero saber, desde que, quando deres de cheiros com algum desses bichos políticos lhes rosnes e lhes mordas os calcanhares. E não vou mais longe nos conselhos porque eles, esses "pó da mesma farinha", merecendo dentada, deve de ser nossa e não de um animal que vê, sem perceber, a podre caravana passar.

Fotografia de Elliott Erwitt

1 Comments:

Blogger dragão said...

É filar-lhes as canelas, é filar-lhes, Lindocão!...
Por nós, no mínimo, devíamos atirar-lhes tomates. A todos.

9:30 da tarde  

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