23.4.05

De 000, para 001

Está você, caro Dodo, coberto de razão. De facto, nada mais escorregadio do que nos metermos para aí, opinando sobre este e aquele, que até parece que uma raivosa inveja nos corrói a mente, nesta vida nem sempre justa. No entanto, por aqui, pouco crédito se dá a esse tipo de especulações. Mesmo pensando que a blogosfera não é um local de liberdade, uma coisa é certa: (ainda) somos todos livres de pensar e de dizer o que nos apetece – valha-nos o bom senso (e o humor, porque não?) São os outros igualmente livres de pensarem e interpretarem o que bem entenderem. E se mal me julgarem, amigo Dodo, isso, pouco me afecta, sinceramente. Ando aqui por prazer. Prazer de escrever, ainda que nem sempre bem, como tantas e tantas vezes acho. E nada procuro, a não ser divertir-me, partilhar, e chatear um bocadito, porque não? É por intimamente saber disso; por ser distraído, sim; por pouco navegar pela blogosfera (há uma meia dúzia de blogues que frequento assiduamente e pouco mais); por tudo isto, enfim, é que, quando tropeço em certas coisas, de quando em vez, me dá para escrever. Talvez o tom seja ambíguo – sou assim, escrevo assim e não me apetece polir nem opinião nem estilo, para chegar mais longe ou a mais pessoas. E estou completamente livre, até porque não conheço nenhum blogger pessoalmente. Não me interessa promoção. E também não fico irritado por não saber quem são os tais caçadores de talentos, não lhes conhecer rostos e gostos, até porque acho que é (quase) tudo uma chusma que de tudo procura, menos o suposto talento, palavra que, de resto, também é, por assim dizer, escorregadia. Mas uma coisa lhe digo: soubesse eu de um livro seu; ou do Dragão; ou da Inês, do Azimutes, ou da M., do Azul Cobalto (só para mencionar os poucos que conheço – acredito que muitos mais existem, com muitíssimo valor) e saltava num berreiro de partir as cordas vocais. O que me lixa, meu caro, não é ver gente a safar-se. Que hajam muitos livros, muitos comentadores ou cronistas. É bom sinal! Mas por que raio calha sempre a uns e nunca a outros? (Se calhar esses "outros" nem querem…) E porquê quase sempre nesta lógica comercial, de supermercado, baseada na lógica dos contadores de visitas? É o mercado, pois sim. São as influências, pois sim. E lá por isso desatamos todos a dar os parabéns a todos os gatos-pingados (como os odeio – coisas de rato!) que editam livros menos bons, alguns ainda por cima num Português duvidoso e insosso, como muito bem diz?
Tudo é legítimo, sim senhor, até uma indignação de vez em quando de um anónimo que alegremente vive na pacatez de uma terriola deste país e que num certo dia, pouco conhecendo o que era esta coisa da blogosfera, lhe deu para nela entrar, com a cabeça limpa e olhitos ingénuos de quem vê o mundo de longe, mas atento, nem sempre certo, nem sempre esclarecido, mas que tenta, sempre, saber mais, conhecer mais, pensar mais. E, finalizando (e só para que se esclareça, fugindo um pouco, é certo, ao propósito primeiro desta resposta): se ouso responder a alguns bloggers, com eles comunicando, quase se como os conhecesse, é porque muito os respeito, e ao longo dos meses se foi estabelecendo uma estranha relação, que da minha parte quase a sinto de amizade, por genuíno gáudio de ler gente que pensa e que tão bem escreve.
Bem sei, bem sei: esta merda quase resvala para a lamechice, barata e inconsequente. Estou-me nas tintas! Enquanto aqui andar (se calhar está por pouco), hei-de ser sempre assim – verdadeiro para comigo. Leia (leiam) como quiserem. Pareço arrogante? Pareço imodesto? Pareço esperto? Pareço estúpido? Pareço cantar "o fado do coitadinho"? E se calhar sou atrasado, mesquinho, invejoso?… Ora, que importa isso!? Tenha eu saúde, que a minha vida não é um blogue, e de opiniões e ilações está esta merda cheia!
Um sinceríssimo abraço, Dodo.

P.S. – No início pensei em enviar esta resposta (que é de certa maneira pessoal) para o seu sistema de comentários. Mas, depois, resolvi postá-la aqui mesmo. Poucos aqui vêm, e quem vier, que venha por bem!

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro R,
Alguns esclarecimentos.
O meu "post" começa por aplaudir (e citar) o seu. Começa e continua! Tudo o que lá está escrito é de concordância total e, na medida das minhas modestas possibilidades, de reforço, apoio, complemento. Nenhuma palavra menos agradável lhe é dirigida (a si), evidentemente.
O carácter "escorregadio" do assunto refere-se ao mais que provável contra-ataque do tal estrelato das entrelinhas.
A expressão "aqui há atrasado" era comum há não muito tempo (e significa isto mesmo). O "atrasado" propriamente dito é o Papa da "blogosfera", vagamente referido no seu "post".
"Ambíguo" ou "distraído" são adjectivos com uma função meramente retórica e de diegese discursiva, por assim dizer.
Subescrevo, em resumo, todo o conteúdo do seu artigo.
E espero bem que lhe não doam nunca as mãos, em se tratando de malhar na "chusma".
Um abraço igualmente sincero para si, caro R.

P.S.: eu não tenho sistema de comentários, propriamente dito.

8:06 da tarde  
Blogger r said...

Caro Dodo,
Longe de mim pensar que algum conteúdo "menos agradável" do seu "post" me era dirigido. Eu é que, depois de ler o seu "post", tomei consciência do "perigo" de se instalar "confusão", e, qual ladrão, aproveitei a ocasião para explicar algumas coisinhas, também antevendo que algum atrevidote da pequena "alta-roda" mais "impetuoso" aqui entrasse e dissesse das suas.
É que por aqui, numa caixa de comentários, já chegaram a chamar-me de arrogante e tal. Por que não invejoso? Ora que tratei logo de as "cantar" (coisa que há muito andava para fazer), antes que viesse para aí mais música desafinada!
Peguei, é certo, nalguns pontos do seu "post" e fui respondendo, não me dirigindo a si propriamente, embora reconheça que possa parecer. No fundo, caro Dodo, acabámos por escrever no mesmo "registo". Por isso, disse que a resposta (e aqui está um erro, sim senhor! – não se trata de uma resposta, mas de um desabafo) era pessoal e que tinha pensado em enviá-la (o) para o seu e-mail. Mas depois decidi postar aqui, para que quem venha perceba quem aqui se aloja. E aquela coisa do "quem vier, que venha por bem" também não é, obviamente, para si. Só mais um esclarecimento: quando escrevo amigo em itálico é apenas porque não somos amigos – não nos conhecemos.
E também eu comecei o meu post concordando consigo, dizendo que está coberto de razão – e está, do princípio ao fim. E por em fim falar, terminei com um sinceríssimo abraço, porque é-o, e não confundi as coisas. E olhe, cá vai mais um – abraço, claro está. Bem-haja, Dodo.

11:28 da tarde  
Blogger r said...

Só mais uma coisa, caro Dodo: se alguma dúvida subsistir, "mande vir", se faz favor, que a escrever é que a gente se entende!:o)
E mais uma vez, bem-haja (pelo apoio e pelo prazer que tem dado aos que visitam a sua óptima página).

4:15 da tarde  
Blogger dragão said...

Já eu, diabos me levem, passo por esses qui pro quos todos como uma locomotiva descarrilada, eh-eh!...
Mas permita-me, ó R, alvitrar o seguinte:
Em primeiro, não me deseje uma praga dessas, de vir algum filho da puta dum caçador de moluscos bivalves propor-me edição! Dar-me à estampa e ao prelo...Irra! mando-o logo ao caralho! (ao tal fdp, claro está).
Em segundo, está Vª.Excª interdito, rigorosamente proibido, de se ausentar da blogosfera. Ojectar-me-á com o seu livre arbítrio, mas eu contraporei com toda a minha vocação tirânica.
Haja senso. Nada de deserções, hein!...

Fico atento. Humpfh!...

6:35 da tarde  

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