Diálogos de Morte # 8
- Então o que o traz por cá?
- É um alto, senhora doutora, que se me nasceu aqui no céu-da-boca e se avoluma de dia para dia. Nasceu carrapeta e agora já é bola. Por este caminho transformar-se-á em campainha, a segunda, logo aqui tão perto dos dentes, senhora doutora, que daqui a pouco nem comer posso. Não que coma muito: sou pessoa de pouco alimento. De mais a mais com a crise que grassa por aí…
- Deixe-me ver.
- Com certeza. Não vim cá por outro motivo.
- De facto, tem aí qualquer coisa.
- Qualquer coisa, senhora doutora? Não tem nome?
- Há-de ter, com certeza, mas ainda não sei.
- Quem irá saber?
- Lembra-se se se feriu a comer?
- Que desse conta, não senhor, senhora.
- Nem outra coisa qualquer que tivesse levado à boca?
- Que tivesse levado à boca? Olé! Tudo o que nesta boca entra é para sair depois! Nada de confusões! E não, que me lembre não levei nada à boca susceptível de provocar esta intumescência. Já tem nome para ela?
- Não tem cor para infecção nem tamanho para quisto, para além de que não é vulgar aparecer um quisto nesse sítio.
- Não é vulgar!?...
- Não, não é.
- E então?
- E então vamos aguardar o desenvolvimento.
- Sugere que a bola se vai desenvolver?
- Devo dizer-lhe que, de facto, tem todos os contornos de se estar a desenvolver qualquer coisa semelhante à tal campainha de que falou.
- Uma segunda campainha!? Os meus piores receios, senhora doutora. Acha que… Vou tornar-me numa aberração de feira, um caso tão invulgar que só a lendária ficção da "Garganta Funda" me supera. Meu Deus, parece que cai numa história do Gogol. Antes perdesse o nariz! Já me vejo rodeado por uma junta médica com profissionais dos quatro cantos do mundo com os olhos arregalados postos no céu da minha boca, ou ela própria, a bocarra escancarada, a abrir os noticiários das televisões; programas especiais para mostrar a monstruosa realidade.
- Não entre em histerias. É só uma suposição.
- Uma suposição com uma imagem aterradora: ter uma campainha a badalar entre os dentes. Acha pouco, com certeza.
- Acho que devemos aguardar o desenvolvimento. Entretanto, vai fazer um tratamento.
- Faça o favor de me dar qualquer coisa para travar o cantar desta coisa, senhora doutora.
- Vai tomar isto e volta daqui a oito dias.
- Se poder falar, senhora doutora, virei, não duvide. E mesmo que as palavras me faltem, pode ter a certeza que gestos não me faltarão para comunicar a minha desgraça.
- É um alto, senhora doutora, que se me nasceu aqui no céu-da-boca e se avoluma de dia para dia. Nasceu carrapeta e agora já é bola. Por este caminho transformar-se-á em campainha, a segunda, logo aqui tão perto dos dentes, senhora doutora, que daqui a pouco nem comer posso. Não que coma muito: sou pessoa de pouco alimento. De mais a mais com a crise que grassa por aí…
- Deixe-me ver.
- Com certeza. Não vim cá por outro motivo.
- De facto, tem aí qualquer coisa.
- Qualquer coisa, senhora doutora? Não tem nome?
- Há-de ter, com certeza, mas ainda não sei.
- Quem irá saber?
- Lembra-se se se feriu a comer?
- Que desse conta, não senhor, senhora.
- Nem outra coisa qualquer que tivesse levado à boca?
- Que tivesse levado à boca? Olé! Tudo o que nesta boca entra é para sair depois! Nada de confusões! E não, que me lembre não levei nada à boca susceptível de provocar esta intumescência. Já tem nome para ela?
- Não tem cor para infecção nem tamanho para quisto, para além de que não é vulgar aparecer um quisto nesse sítio.
- Não é vulgar!?...
- Não, não é.
- E então?
- E então vamos aguardar o desenvolvimento.
- Sugere que a bola se vai desenvolver?
- Devo dizer-lhe que, de facto, tem todos os contornos de se estar a desenvolver qualquer coisa semelhante à tal campainha de que falou.
- Uma segunda campainha!? Os meus piores receios, senhora doutora. Acha que… Vou tornar-me numa aberração de feira, um caso tão invulgar que só a lendária ficção da "Garganta Funda" me supera. Meu Deus, parece que cai numa história do Gogol. Antes perdesse o nariz! Já me vejo rodeado por uma junta médica com profissionais dos quatro cantos do mundo com os olhos arregalados postos no céu da minha boca, ou ela própria, a bocarra escancarada, a abrir os noticiários das televisões; programas especiais para mostrar a monstruosa realidade.
- Não entre em histerias. É só uma suposição.
- Uma suposição com uma imagem aterradora: ter uma campainha a badalar entre os dentes. Acha pouco, com certeza.
- Acho que devemos aguardar o desenvolvimento. Entretanto, vai fazer um tratamento.
- Faça o favor de me dar qualquer coisa para travar o cantar desta coisa, senhora doutora.
- Vai tomar isto e volta daqui a oito dias.
- Se poder falar, senhora doutora, virei, não duvide. E mesmo que as palavras me faltem, pode ter a certeza que gestos não me faltarão para comunicar a minha desgraça.
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